segunda-feira, 22 de março de 2010

Utilidade e vontade.


Bem ultimamente venho me questionando sobre a vontade, e questionando o porque de tudo ter uma utilidade. Talvez nós damos a utilidade para as coisas, e tudo seja tão útil quanto inútil. Agora a questão da vontade me continua uma incógnita. Há produtos que tem suas embalagens projetadas de tal forma, que acabam despertando em nós uma vontade de comprar aquilo (o famoso caso do Mac Donald’s). Ao mesmo tempo que nossa vontade pode ser produzida, ela é a melhor justificativa (vontade, desejo) para fazermos algo “irracional”, se eu quiser me jogar num lago para tomar banho no inverno e disser que fui porque me deu vontade, será perfeitamente justificado, mesmo comumente não fazendo sentido algum. Ao mesmo tempo criamos a idéia de que tudo deve fazer algum sentido – logo ter uma utilidade.

Chega, fiquem com o confuso texto.

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Para que sirvo? Para nada talvez... Não sinto vontade alguma, nem de dormir, nem de ficar acordado, nem de escrever, nem ler, nada. As coisas perderam a sua aura. A cerveja, o livro, o café, a música, todo o meu cotidiano. Minha vontade de liberdade também se foi. Só restou a preguiça, mas perdi a vontade sobre ela igual como perdi a sobre a arte.

É preciso se enganar para pensar que a erudição, a arte, podem ser tudo. Poderia viver numa cápsula de felicidade e desconhecer arte e erudição, mas isto também denota uma grande capacidade de se enganar.

Agora estou sem um pingo de vontade – nem sei porque escrevo – e me pergunto de onde vem a minha vontade, ou falta dela. Minha vontade é igual a de uma crinaça, um aborígene, a de um homem do século XII? Qual era a vontade (e desejo) dessa gente?

Alguma parte do meu corpo sempre coça, no braço, cabeça, perna ou bunda... sempre coça. Então eu coço, e matando a coceira aqui, brota uma nova ali. Então porque coço? Pelo mesmo motivo de minha existência, por nada, por minha vontade.

No entanto o que eu percebo é que tudo isto é nada porque eu quero. Só há significado na erudição e arte porque dou este significado a ela. E a mesma coisa serve para a cápsula que vem a ser a vida pacata e ordeira de um trabalhador, dono de seu negócio ou não, ele que lhe dá significado a aquilo, assim como eu dou.

Queria pintar, não sei pintar, já quis ser poeta, mas não sou poeta, tento uma infinidade de outras coisas que talvez não seja. Mas o que eu sou então? Além do homem sem vontade há algo!

Simplesmente não sei responder...

10/02/2010

3 comentários:

  1. Fiodor diz em notas do subsolo, que se minha vontade cede a razão, então não é uma vontade. Logo vontade é algo irracional...

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  2. "Não me conciliei ainda com a idéia de acompanhar o embaixador... Jamais pude gostar da subordinação; além do que, todos nós sabemos tratar-se de um homem muito desagradável. Segundo diz você, minha mãe deseja que eu me ocupe de alguma coisa; isso me fez rir. Não estou eu, então, ocupado neste momento? Seja em contar de grãos de ervilhas, ou lentinhas, no fundo não é a mesma coisa? Tudo neste mundo leva às mesmas mesquinharias; e aquele que, para agradar aos outros, e não por paixão ou necessidade especial, se esgota no trabalho para ganhar dinheiro, honrarias, ou o que quer que seja, aquele que agir desse modo, digam o que disserem, é um louco."

    Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther

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  3. compartilho do mesmo pensamento que o seu, meu amigo.

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