domingo, 22 de novembro de 2009

Fragmento de um diálogo




– Humano.

– Humano?

– É, Humano. Humano do latim humánus ou também conhecido como: ser humano, homem, pessoa, gente.
Ou cientificamente: Homo sapiens, o Homem Sábio.

– Bravo! Mas, o que faz dos humanos humanos?

– O que nos torna humanos?

– É o que define esse homem sábio?

– O que você supõe ser?

– Bem, nossa natureza racional? Polegares opositores? Telencéfalo desenvolvido? Nossa anatomia arrojada? Nossos aparatos fisiológicos superiores? Nossa capacidade de reflexão? Nossa capacidade de deflexão? Nossa habilidade de classificar, de rotular, de embalar, de encaixotar, de armazenar e... Descartar?

– Não, nenhum destes.

– Então, nossa incapacidade de ser feliz? Nosso talento em destruir? Nossa incapacidade pensar além do tempo e do espaço? Nossa maestria em criar? Nossa tecnologia autodestrutiva? Nossa poder de controlar a natureza, o mundo a nossa volta e nosso futuro? Nossa habilidade primordial de mentir, de fingi,r dissimular, amar e matar?

– Não, nenhum destes também.

– Não? Seria... Nossa capacidade de filosofar, de criar mitos, religiões, explicações? Seria nossa ciência? Nossa Inteligência? Nossa capacidade de descobrir verdades, gerar conhecimentos? Nosso ciclo de vida? Nossa evolução? Nossa natureza? Nossas raças? Nossa dieta? Nossa psique? Nossas vontades? Nosso poder?

– Não, é outra arte

– Outra arte? Nossa arte em... Plantar tomates?

– Não, nossa sublime arte de... Esquecer.

– Esquecer?

– Isso, esquecer. Esquecer que de que nossa “natureza racional” não passa de uma fantasia moderna, de que a loucura e tão humana quanto a razão. De que não temos porte físico para competir com nenhum outro animal. De que não somos feitos para correr, para cortar, brigar, ou seja, se nossa vida dependesse de nosso físico, seria melhor que nos escondêssemos e esperássemos pela morte.

Esquecemo-nos também que nossas reflexões, nossas de filosofias, nossas religiões, nossa ciência, nossas explicações, nossos conhecimentos não passam de criações humanos. São fantasias, são mitos! Mitos que sustentam nossas sociedades e nossos modos de vida. Esquecemos que não descobrimos verdades, nós as inventamos. O mundo a nossa volta está mais perto de ser a criação de cada um do que um aproximar-se do “mundo de verdade” da metafísica e da ciência (que é a metafísica moderna, travestida e outorgada).

Esquecemos de muitas coisas, inclusive que o universo não gira ao redor de nosso umbigo, que nossas classificações, nossos rótulos são frutos de nossa imaginação e não ultrapassam nosso mundinho egoísta. E esse egoísmo nos faz esquecer de que o mundo não é nosso, que nosso modo de vida não é superior é, ao contrário, autodestrutivo, suicida. Nutrimos nossa incapacidade de nos contentarmos e, com isso, destruímos mais e mais como se os recursos fossem infinitos, como se nós fossemos infinitos.

Nós esquecemos que somos finitos, para justificar nossa prepotência e desrespeito com o outro. E no fundo, queremos esquecer que só podemos pensar em coisas finitas e limitas e afirmamos como se isso fosse mais que nossa vã ficção. Queremos controle, queremos um mundo ordenado e racional, mas esquecemos que ele não é. Esquecemos que amanhã podemos não acordar ou que amanhã jamais será o que se quer que ele seja, esquecemos que o universo está envolto num espírito trágico que foge ao nosso controle.

Envolvemo-nos em nossas simulações, mergulhamos em nossas mentiras, e nos deprimimos com elas. Nós nos esquecemos de ser feliz. Ao fim, esquecemos que somos mestres em criar que nossas criações são somente nossas.

Em última instância....
Esquecemo-nos que esquecemos!



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