domingo, 22 de novembro de 2009

Quase 1 ano depois.

Abro uma agenda. Pequena, o suficiente para suportar um dia entediante. Entre esses dias de novembro do ano de 2008. Manterei o texto cru, sem alterações. Estou me despindo, com uma escrita simples, como o fim:

Caracas...nesse tédio, parece que o mundo vai desabar em Blumenau. O que é isso? Que sensação seria essa? Medo? É culpa de quem? Ninguém?Alguém? Aquela rua pela qual todos os dias caminhávamos. Aquelas casas, o caminho, as árvores, os cachorros, as casas, tudo foi levado. Melhor sorrir por não ter havido cadáver como em tantos outros cantos da cidade, da região, do estado. Todos estamos na mesma expectativa de que tudo melhore, vivendo a vida com medo, hora por hora, dia após dia. O povo "ordeiro e trabalhador" onde está? Onde está todo o esforço do trabalho? As casas com suas arquiteturas modernas? E os barracos? E a história tão bonita? O que será criado agora? Que festa? Não sei. Alguém se arrisca a saber onde tudo é surpresa? O povo se une num momento de solidariedade. O morro se une. Mudanças pelas "picadas" e outros caminhos construídos pelo desastre. A escola, a igreja e a creche perderam suas funções originais para abrigar aqueles que fugiram do barro. Que dia é esse?"O dia em que a terra parou" diria Raul pra contemplar em versos o que vem acontecendo conosco. 2008 será como 1983? Qual a semelhança? Qual a diferença? E qual a importância em saber disso? Sem água potável, nem luz, nem comunicação, ainda estamos felizes, sim, sim por estarmos abrigados em nossas casas...Ah! Houve um roubo de uma geladeira na Coripa no período que a casa ficou sozinha...não consigo mais enxergar, a luz do dia está se indo...Fazer o que agora? Que tédio. Pára de chover! Pára! E o rio? Eu rio? Hoje é dia 24, pelas minhas contas...segunda-feira...algumas horas da noite. Saudade da vida [isto eu circulei]

E assim terminei. Relendo, releio minha vida, minhas transformações. Algumas coisas que se foram como barro deslizando por sobre os morros. Que moveram minhas casas que havia consolidado com tanto labor e um sinal da cruz. Desmonoraram. O que eu chamo de vida hoje, tem completamente outro sentido... Quantas pessoas mortas vivem! Estou me despindo...nua, completamente nua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário